10 setembro 2007

Quem sou eu não sei

Quem sou eu não sei, mas conheço alguém parecido...

É parecido este outro, sempre antes de dormir lembra de quem gosta,

mas, ao acordar lembra o sonho que teve, assim pode mais que lembrar,

parece que pode tocar você, até sentir você.

Sempre esta murmurando, mas não é lamento, se chegar perto vai ouvir uma canção,

alegre sim, mas que fala de sentimento.

É parecido, porque todo final de tarde ele olha para o céu, fica ali a espera da primeira estrela,

não para ter a ilusão que é o primeiro à ve-la, mas pra fazer um pedido, um pedido secreto, mas que ele acredita muito.

É secreto, mas fácil de adivinhar, não tem mistério, só pensar no que você sonhou, quando o amanhecer lhe despertou.

Pena que sou só parecido com o outro!

Parecido porque às pessoas são parecidas nunca iguais, eu não posso ser ele, senão como posso ser eu, se você quer na verdade o outro.

Sou só parecido com o outro, amigos de longa data, na verdade nem lembro mais de quando, com certeza mais que amigos diriam talvez irmão.

Mas tenho certeza de quem sou, sou apenas parecido com o outro.


 

Adilson

... tanta coisa que não cabem em palavras. nem em lágrimas.

Se alguém bater um dia à tua porta

Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!

Fernando Pessoa, 5-9-1934

05 setembro 2007

Mesmo assim

Mesmo assim

Mesmo que te de flores

Mesmo lembrando novos amores

Mesmo que seja por impulso

Mesmo com remorso

Mesmo em certos dias

Mesmo que não chore com velhas melodias

Mesmo que já não lembre mais de mim

Mesmo assim

Continuo a te esperar

de pé, la mesmo

Naquela antiga esquina da saudade.

Adilson